sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Profundamente


Te olho nos olhos e você reclama
Que te olho muito profundamente.
Desculpa,
Tudo que vivi foi profundamente
Eu te ensinei quem sou
E você foi me tirando
Os espaços entre os abraços,
Guarda-me apenas uma fresta.
Eu que sempre fui livre,
Não importava o que os outros dissessem.
Até onde posso ir para te resgatar?
Reclama de mim, como se houvesse a possibilidade
De me inventar de novo.
Desculpa
Se te olho profundamente,
Rente à pele
A ponto de ver seus ancestrais
Nos seus traços.
A ponto de ver a estrada
Muito antes dos seus passos.
Eu não vou separar as minhas vitórias
Dos meus fracassos
Eu não vou renunciar a mim;
Nenhuma parte, nenhum pedaço do meu ser
Vibrante, errante, sujo, livre, quente.
Eu quero estar vivo e permanecer
Te olhando profundamente.

Eros e Psique


Conta a lenda que dormia 
Uma Princesa encantada 
A quem só despertaria 
Um Infante, que viria 
De além do muro da estrada 

Ele tinha que, tentado 
Vencer o mal e o bem 
Antes que, já libertado
Deixasse o caminho errado 
Por o que à Princesa vem

A Princesa Adormecida
Se espera, dormindo espera
Sonha em morte a sua vida
E orna-lhe a fronte esquecida 
Verde, uma grinalda de hera

Longe o Infante, esforçado 
Sem saber que intuito tem
Rompe o caminho fadado
Ele dela é ignorado
Ela para ele é ninguém

Mas cada um cumpre o Destino 
Ela dormindo encantada 
Ele buscando-a sem tino 
Pelo processo divino 
Que faz existir a estrada 

E, se bem que seja obscuro 
Tudo pela estrada fora 
E falso, ele vem seguro
E vencendo estrada e muro
Chega onde em sono ela mora 

E, inda tonto do que houvera
À cabeça, em maresia
Ergue a mão, e encontra hera
E vê que ele mesmo era 
A Princesa que dormia.