sexta-feira, 19 de junho de 2009

Vento


O vento é um cavalo
Ouça como ele corre pelo mar, pelo céu.
Quer me levar: escuta como recorre ao mundo para me levar para longe.
Me esconde em teus braços por somente esta noite, enquanto a chuva rompe contra o mar e a terra, sua boca inumerável.
Escuta como o vento me chama galopando para me levar para longe.
Com tua frente a minha frente, com tua boca em minha boca, atados nossos corpos ao amor que nos queima, deixa que o vento passe sem que possa me levar.
Deixa que o vento corra coroado de espuma, que me chame e me busque galopando na sombra, entretanto eu, emergido debaixo teus grandes olhos, por somente esta noite descansarei, amor meu.
(Pablo Neruda)

domingo, 14 de junho de 2009

O mais-que-perfeito

Ah quem me dera ir-me contigo agora a um horizonte firme comum embora
Ah quem me dera amar-te sem mais ciumes de alguém em algum lugar que nem presumes
Ah quem me dera ver-te sempre ao meu lado sem precisar dizer-te jamais cuidado
Ah quem me dera ter-te como um lugar plantado no chão verde para eu morar-te
Ah quem me dera ter-te, morar-te até morrer-te.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Tosca

Vissi d’arte, vissi d’amore, non feci mai male ad anima viva!
Con man furtiva quante miserie conobbi aiutai.
Sempre con fè sincerala mia preghiera ai santi tabernacoli salì.
Sempre con fè sinceradiedi fiori agl’altar.
Nell’ora del dolore, perchè, perchè, Signore, perchè me ne rimuneri così?
Diedi gioielli della Madonna al manto, e diedi il canto agli astri, al ciel, che ne ridean più belli.
Nell’ora del dolore, perchè, perchè, Signore, ah, perchè me ne rimuneri così?

Giacomo Puccini

Encerrando ciclos.

Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final. Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver. Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos - não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram. Foi despedido do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais? Partiu para viver em outro país? A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações? Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu. Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó. Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seu marido ou sua esposa, seus amigos, sua irmã, todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado. Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco. O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar. As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora. Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem. Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar. Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se.
Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos e às vezes perdemos. Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor. Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa,que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando, e nada mais. Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do "momento ideal". Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará. Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa; nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade. Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante. Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida. Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era e se transforme em quem é.
Por isso é que eu sempre digo:"Se a vida há de ser provisória, que seja linda e louca a nossa história".

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Todas as cartas de amor são ridículas...

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Álvaro de Campos

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Oceano

Assim que o dia amanheceu lá no mar alto da paixão, dava prá ver o tempo ruir. Cadê você, que solidão! Esquecera de mim? Enfim, de tudo o que há na terra não há nada em lugar nenhum que vá crescer sem você chegar, longe de ti tudo parou, ninguém sabe o que eu sofri...
Amar é um deserto e seus temores, vida que vai na sela dessas dores, não sabe voltar, me dá teu calor...Vem me fazer feliz porque eu te amo, você deságua em mim e eu oceano e esqueço que amar é quase uma dor...
Só sei viver se for por você!

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Meu Veneno

Atrás de meus olhos dorme uma lagoa profunda e o céu que trago na mente meu voo jamais alcança. Há no meu corpo um incêndio que queima sem esperança. A própria terra que piso vira um abismo e me come. Corre em meu sangue um veneno, veneno que tem teu nome.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

As aparências enganam...


As aparências enganam, aos que odeiam e aos que amam, porque o amor e o ódio se irmanam na fogueira das paixões. Os corações pegam fogo e depois não há nada que os apague se a combustão os persegue, as labaredas e as brasas são o alimento, o veneno e o pão, o vinho seco, a recordação dos tempos idos de comunhão, sonhos vividos de conviver.
As aparências enganam, aos que odeiam e aos que amam, porque o amor e o ódio se irmanam na geleira das paixões. Os corações viram gelo e, depois, não há nada que os degele, se a neve, cobrindo a pele, vai esfriando por dentro o ser, não há mais forma de se aquecer, não há mais tempo de se esquentar, não há mais nada pra se fazer, senão chorar sob o cobertor.
As aparências enganam, aos que gelam e aos que inflamam, porque o fogo e o gelo se irmanam no outono das paixões. Os corações cortam lenha e, depois, se preparam pra outro inverno, mas o verão que os unira, ainda, vive e transpira ali nos corpos juntos na lareira, na reticente primavera, no insistente perfume de alguma coisa chamada amor.

Elis